sábado, 8 de maio de 2010

Telaprevir em pacientes não respondedores - Surpreendente: 59% conseguem a cura!

A apresentação oral n° 4 relatava os resultados finais de retratamento de pacientes infectados com o genótipo 1 da hepatite C que não tiveram sucesso num tratamento anterior com interferon peguilado e ribavirina.

Todas as tentativas de retratar esses pacientes utilizando novamente o interferon peguilado e a ribavirina apresentaram resultado muito aquém do desejado, sendo pequenas a possibilidades de sucesso. O número de pacientes infectados com o genótipo 1 que não responderam ao tratamento corresponde aproximadamente à metade dos tratados, um número enorme que necessita atenção prioritária.

O Telaprevir apresentou os resultados surpreendentes conseguidos no retratamento desses pacientes, assombrando os participantes do EASL 2010 que aconteceu semana passada em Viena, na Áustria.

É necessário separar em grupos os pacientes que não obtiveram sucesso no tratamento anterior, pois em cada caso as possibilidades com um retratamento serão muito diferentes. Assim, neste estudo os resultados são diferentes para os que no primeiro tratamento foram nulos de resposta (grupo formado pelos que nunca conseguiram se encontrar negativos), pelos respondedores parciais (grupo que na semana 24 somente baixou 2 log), pelos não respondedores (grupo que consegue negativar, mas durante o tratamento voltam a estar positivos) e pelos recidivantes (grupo que completa o tratamento estando negativo, mas o vírus reaparece nos seis meses seguintes ao final do tratamento).

O desenho original do estudo consistia em retratar os pacientes durante as primeiras 12 semanas com Telaprevir, interferon peguilado e ribavirina e depois desse prazo continuar somente com interferon peguilado e ribavirina até completar 24 semanas de tratamento. Os pesquisadores decidiram após o inicio do estudo, dependendo da resposta de cada paciente, estender o tratamento até completar 48 semanas, objetivando garantir a resposta sustentada dos pacientes lentos em responder.

No total foram retratados 117 pacientes, sendo 51 nulos de resposta no primeiro tratamento, 29 pacientes que apresentaram somente uma resposta parcial, 8 pacientes não respondedores e 29 pacientes recidivantes.

A resposta sustentada geral do grupo foi conseguida por 59% dos pacientes que iniciaram o retratamento.

A resposta de cada grupo varia em função do regime terapêutico empregado, mas podemos a resumir da seguinte forma:

1 - PACIENTES NULOS DE RESPOSTA NO TRATAMENTO ANTERIOR

- Os que receberam tratamento de Telaprevir/interferon peguilado e ribavirina por 12 semanas e mais 12 semanas de interferon peguilado e ribavirina, conseguiram 17% de possibilidade de cura.

- Os que receberam tratamento de Telaprevir/interferon peguilado e ribavirina por 12 semanas e mais 36 semanas de interferon peguilado e ribavirina, conseguiram 56% de possibilidade de cura.

2 - PACIENTES COM RESPOSTA PARCIAL NO TRATAMENTO ANTERIOR

- Todos receberam tratamento de Telaprevir/interferon peguilado e ribavirina por 12 semanas e mais 12 semanas de interferon peguilado e ribavirina, conseguindo 60% de possibilidade de cura.

3 - PACIENTES NÃO RESPONDEDORES NO TRATAMENTO ANTERIOR

- Todos receberam tratamento de Telaprevir/interferon peguilado e ribavirina por 12 semanas e mais 12 semanas de interferon peguilado e ribavirina, conseguindo 86% de possibilidade de cura.

4 - PACIENTES RECIDIVANTES APÓS O TRATAMENTO ANTERIOR

- Todos receberam tratamento de Telaprevir/interferon peguilado e ribavirina por 12 semanas e mais 12 semanas de interferon peguilado e ribavirina, conseguindo 96% de possibilidade de cura.

Os efeitos colaterais mais freqüentes do tratamento foram a sensação de gripe, fadiga, náuseas, diarréia, prurido, etc., um pouco maiores que no tratamento atual, mas nada que possa ser um fator considerado adverso. Com o tempo esses efeitos serão conhecidos e poderão ser evitados, tal qual aconteceu com os primórdios do tratamento da AIDS.

MEUS COMENTÁRIOS

Após a apresentação, jantando junto a um grupo de médicos comemoramos os resultados, pois estamos frente a uma revolução nos resultados que podem ser conseguidos com a introdução do Telaprevir, do qual muito provavelmente as autoridades do FDA dos Estados Unidos e da Comissão Européia de Medicamentos o deverão autorizar, se não for ao final deste ano no inicio de 2011. Em outros países vai depender da vontade política e da agilidade das agencias reguladoras em atualizar os protocolos e consensos, e neste ponto a sociedade civil será fundamental para exercer a devida pressão, seja recorrendo a Justiça e até realizando manifestações publicas, mas é necessário que os medicamentos estejam disponíveis rapidamente para assim evitar a morte de muitos pacientes.

Vejo com grande alegria que dependendo do resultado do tratamento anterior, entre 56% e 96% (sim estou escrevendo corretamente!) conseguirão a cura definitiva da hepatite C e, mais importante ainda, a maioria com somente 24 semanas de tratamento.

Este e o primeiro de uma serie de matérias que estarei enviando nos próximos dias. Não somente o material e em grande quantidade, como os transtornos causados pela impossibilidade de regressar da Europa por culpa do vulcão, atrapalharam totalmente a minha vida, acumulando o trabalho. Temos muitas boas notícias para comentar!

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Oral Presentation - OPENING & GENERAL SESSION 1- Abstract: 4 - Journal of Hepatology, Supplement No 1, Volume 52, 2010, Page S2 - SVR WITH TELAPREVIR, PEGINTERFERON ALFA-2A AND RIBAVIRIN IN HCV PATIENTS WITH WELL-CHARACTERIZED PRIOR NULL RESPONSE, PARTIAL RESPONSE, VIRAL BREAKTHROUGH OR RELAPSE AFTER PR - T. Berg1, J.G. McHutchison, N. Adda, F. Poordad, M.L. Shiffman, P. Ferenci, J. Heathcote, J.-M. Pawlotsky, S. Zeuzem, H. Reesink, G. Dusheiko, E. Martin, D. Alexanderian, S. George, A.J. Muir.

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo