domingo, 23 de março de 2014

Bebidas alcoólicas antes de iniciar o tratamento da hepatite C prejudicam a possibilidade de cura?



10/03/2014 

Diversos estudos recomendam que pessoas que abusam das bebidas alcoólicas devem abandonar as bebidas seis meses antes de iniciar o tratamento para receber o tratamento da hepatite C com alguma chance de sucesso. 

Os pesquisadores investigaram o passado de abuso de bebidas alcoólicas de 421 pacientes infectados com hepatite C nunca antes tratados com qualquer interferon que receberam tratamento com interferon peguilado e ribavirina entre os anos de 2002 e 2008. 

Dos 259 pacientes nos quais foi possível obter uma historia detalhada da ingestão de álcool no passado foi encontrado que a ingestão de álcool era regular em 93,1% dos pacientes antes do diagnostico da hepatite C, 30,9% deixaram de beber entre o diagnostico e o inicio do tratamento e 1,9% durante o tratamento. 

Padrões moderados de ingestão de bebidas foram relatados por 67,9% dos pacientes, 63,5 ingeriam bebidas alcoólicas em maior quantidade antes de iniciar o tratamento e 29,3% relataram abstenção menor que o recomendado nos seis meses anteriores ao inicio do tratamento. 

Apesar desses relatos a cura foi obtida por 80,2% dos pacientes infectados com os genotipos 2 e 3 e por 45,1% dos infectados com os genótipos 1, 4 e 6. 

A recidiva do vírus nos seis meses após o final do tratamento não esteve relacionada com qualquer dos padrões de ingestão de bebida relatada. 

Padrões pré-tratamento de beber e consumo de álcool total, foram ambos sem relação com as taxas de cura. Abster-se menos de 6 meses antes do tratamento foi associado à diminuição de cura em consumos moderados, mas não pesado de álcool. Recidiva do vírus nos seis meses após o final do tratamento não esteve relacionado a beber após o fim do tratamento. 

Concluem os autores que a quantidade de álcool consumido antes do tratamento da hepatite C não tem nenhum efeito negativo sobre o resultado esperado com o tratamento. Um passado de beber em quantidade abusiva não deve ser considerado um impedimento para a indicação do tratamento se o mesmo for realizado por uma equipe multidisciplinar em centro de aplicação semanal do interferon. 

MEU COMENTÁRIO 

Os resultados mostram que se uma pessoa que no passado era bebedor de álcool de forma abusiva pode receber o tratamento e obter a mesma possibilidade de cura que os não bebedores se o pacientes é acompanhado semanalmente em um pólo de aplicação do interferon, objetivando conseguir aderência plena na administração dos medicamentos. 

Isso é extremamente necessário para evitar interrupções das doses de interferon, uma questão muito comum que acontece com dependentes de álcool e drogas. 

Ou seja, não interessa o passado e sim como é realizado e controlado de forma permanente o tratamento da hepatite C a ser realizado, desde que durante o tratamento o paciente deixe de beber. 

Lembre sempre que curar a hepatite C não significa que o fígado ficou em estado de novo, pois o dano hepático, seja fibrose ou cirrose, continua existindo. Após a cura o fígado pode se regenerar em parte com o correr dos anos, lentamente, mas se continua bebendo álcool continuará sendo destruído e o dano continuará sendo cada vez mais grave, agora por culpa do álcool. 

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
The impact of lifetime alcohol use on hepatitis C treatment outcomes in privately insured members of an integrated health care plan - Marcia Russell, Mary Patricia Pauly, Charles Denton Moore, Constance Chia, Jennifer Dorrell, Renee J. Cunanan, Gayle Witt, and Scott Martin - Hepatology. 2012 Oct;56(4):1223-30. doi: 10.1002/hep.25755. 


Carlos Varaldo

quarta-feira, 5 de março de 2014

Nova droga diminui o tempo de tratamento e cura 96% dos infectados com Hepatite C

Nota: Nádia Elizabeth - CMS
05/03/2014


Valor Econômico

Jornalista: Vanessa Dezem

A empresa farmacêutica americana Gilead chegou discretamente ao Brasil e instalou seu primeiro escritório em São Paulo. Mas o mercado está de olhos bem abertos para esse movimento. A Gilead é uma das grandes do setor de biotecnologia, com faturamento de US$ 11 bilhões, e sua vinda ao país faz parte de um movimento maior.
A indústria global vive o início de um processo de alteração na dinâmica do segmento de virologia, essencialmente na área da hepatite C, com tratamentos novos e considerados revolucionários. No Brasil, um mercado dominado por Roche, MSD e Janssen, os reflexos dessas mudanças serão grandes.
A Gilead está nas manchetes da mídia internacional desde o fim do ano passado, quando foi aprovado pelo FDA (o órgão do governo americano que controla o uso de medicamentos) seu novo tratamento para hepatite C, chamado Sovaldi. As indicações são de que o remédio é muito eficaz, cura o doente em 96% dos casos e reduz o tratamento de 40 para 12 semanas. As vendas deste ano devem atingir US$ 5 bilhões. No Brasil, estima-se que entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas são portadoras da hepatite C.

http://www.abradilan.com.br/noticias_detalhe.asp?noticia=19176

segunda-feira, 3 de março de 2014

Quais serão os próximos passos na "guerra" por medicamentos na hepatite C?

No mercado de medicamentos para tratamento da hepatite C está acontecendo uma verdadeira revolução, que esta sendo incentivada pelos organismos reguladores de medicamentos dos Estados Unidos e Europa, os quais estão outorgando pesquisa rápida e prioridade na apreciação da aprovação objetivando que até o próximo ano entre quatro ou cinco laboratórios farmacêuticos estejam no mercado competindo pelos pacientes, o que certamente vai ocasionar uma importante redução nos preços dos medicamentos. 

O organismo regulador de medicamentos dos Estados Unidos já aprovou o simeprevir e o sofosbuvir, assim, como já recebeu solicitação de registro do ledipasvir por parte da Gilead. 

Cinco empresas com medicamentos nas pesquisas em fase 3 já receberam autorização de pesquisa rápida ou de prioridade na apreciação para aprovação pelo FDA, são elas em ordem alfabética: 

Abbott (Abbvie) 
Boehringer
Bristol-Myers Squibb
Enanta
Gilead 

Também, na fase 2 avançada das pesquisas outros seis fabricantes estão desenvolvendo medicamentos promissores, que deverão chegar ao mercado, se tudo correr sem problemas, entre 2015 e 2017, são eles em ordem alfabética 

Bristol-Myers Squibb 
Gilead 
Idenix
Janssen 
Merck
Vertex 

O que temos hoje já aprovado para tratamento oral, sem interferon: 

Sofosbuvir, sem interferon, para tratamento da hepatite C, genotipos 2 e 3. 

Também é possível tratar "off label", isto é, ainda sem consenso ou aprovação dos órgãos reguladores, o genótipo 1 sem interferon ao se combinar o sofosbuvir com o simeprevir ou com o daclastavir. 

O futuro dos tratamentos sem interferon que serão aprovados: 

É estimado que em julho o ledipasvir, da Gilead, será aprovado pelo FDA e ao ser utilizado junto ao sofosbuvir, que também é da Gilead, o genótipo 1 passa a dispor de um tratamento aprovado pelas agências reguladoras, totalmente oral sem interferon. 

Os cinco fabricantes com autorização de pesquisa rápida e prioridade na apreciação no FDA ou nas autoridades da Comunidade Europeia que se encontram na fase 3 das pesquisas deverão ter seus medicamentos aprovados no ano próximo, em 2015. 

Por tanto, Gilead com os dois medicamentos aprovados em julho de 2014 terá durante 1 ano o privilegio de ser a única empresa com um tratamento totalmente oral sem necessidade de ter que utilizar medicamentos das farmacêuticas concorrentes. 

Qual será a política de preços da Gilead é uma incógnita, é uma pergunta que vale milhões de dólares. Mas vamos fazer algum exercício de marketing, sem nenhuma base ou dado mercadológico, somente especulando. 

Os pacientes poderão utilizar o sofosbuvir com o simeprevir ou com o daclastavir para realizar um tratamento totalmente oral, mas para tal deverão comprar a preços dos Estados Unidos o sofosbuvir por 82.000.- dólares e comprar também o simeprevir ou o daclastavir, aumentando o custo do tratamento. 

E qual será o preço a ser fixado pela Gilead para o ledipasvir? O medicamento será vendido separadamente do sofosbuvir ou será oferecido como um pacote único de sofosbuvir + ledipasvir ao mesmo preço do sofosbuvir? 

Se acontecer essa última hipótese Gilead terá durante 12 meses o monopólio do mercado oral da hepatite C sem interferon. 

Bristol-Myers Squibb poderá chegar em segundo lugar ao mercado com um tratamento oral livre de interferon que não vai depender do sofosbuvir, já que a combinação do "daclatasvir e asunaprevir" são dois medicamentos da própria Bristol.

Abbvie também terá tratamentos livres de interferon sem depender dos concorrentes, mas será a terceira a chegar. Mas como tudo são estimativas a situação de qualquer empresa pode mudar rapidamente e a ordem de chegada ao mercado poderá ser alterada, inclusive com o avanço de alguns que se encontram em quarto ou quinto lugar na linha de largada. 

O problema, para todas as empresas vai acontecer se quando chegam ao mercado ainda existem pacientes para tratar, pois é sabido que é necessário primeiro diagnosticar e encontrar os infectados, para somente então poder vender os medicamentos. De nada vale um medicamento se os infectados não são encontrados. 

Para os sistemas de saúde o problema será encontrar recursos para tratar todos aqueles que sejam diagnosticados com tratamentos de alto custo ao sistema público. 

A partir de 2015 uma nova luta vai começar. Governos, associações de pacientes, sociedades medicas e fabricantes de medicamentos deverão sentar juntos e negociar formas de aumentar o diagnostico e tratar os infectados a um preço compatível com as necessidades de cada país. 

OK. É só uma divagação, mas pensar e sonhar ainda são coisas gratuitas e por isso o texto acima publicado antes do carnaval, ao final, com os novos medicamentos tudo é festa no futuro da hepatite C. 

Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com

sábado, 1 de março de 2014

Prognosticando o sucesso no tratamento da hepatite B

O tratamento da hepatite B procura como resultado a seroconversão do antígeno HBeAg em AntiHBe e tornar indetectável a carga viral (DNA/HBV), mas um estudo publicado na "Hepatology" mostra que o nível no soro do antígeno de superfície HBsAg estabelece um critério para prever o resultado do tratamento. 

Os pesquisadores observaram 2.139 infectados com hepatite B, nenhum estava co-infectado com hepatite C, todos sem qualquer tratamento antiviral anterior e sem cirroses. A seroconversão do antígeno HBeAg e a carga viral indetectável foram observadas acompanhando 431 pacientes HBeAg positivos e 1.708 HBeAg negativos.

O nível da carga viral foi o mais importante indicador de seroconversão do antígeno HBeAg, mas o nível do HBsAg foi o mais importante indicador da possibilidade de tornar indetectável a carga viral (HBV/DNA).

Para tal compararam pacientes com níveis de HBsAG acima de 10.000 UI/ml com os que apresentavam no inicio do tratamento níveis menores, encontrando que:

- Em pacientes com HBsAG entre 1.000 e 9.999 a carga viral indetectável aconteceu em 1,20% (0,62%-2,30%) dos pacientes em tratamento.

- Em pacientes com HBsAG entre 100 e 999 a carga viral indetectável aconteceu em 2,49% (1,31%-4,75%) dos pacientes em tratamento.

- Em pacientes com HBsAG menor de 100 a carga viral indetectável aconteceu em 6,08% (3,19%-11,61%) dos pacientes em tratamento.

Concluem os autores que o nível do HBsAg antes do inicio do tratamento é um importante fator prognostico da possibilidade de sucesso do tratamento com a seroconversão do antígeno HBeAg em AntiHBe e carga viral indetectável.

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Distinct Seromarkers Predict Different Milestones of Chronic Hepatitis B Progression - Jessica Liu, Hwai-I Yang, Mei-Hsuan Lee, Richard Batrla-Utermann,Chin-Lan Jen, Sheng-Nan Lu, Li-Yu Wang, San-Lin You, Chuhsing Kate Hsiao, Chien-Jen Chen - For the R.E.V.E.A.L.-HBV Study Group - Hepatology 2014; DOI: 10.1002/hep.27083

Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com