terça-feira, 15 de junho de 2010

Curiosidade: Começa a ser decifrado o enigma da cura espontânea da AIDS e da hepatite C

Aproximadamente 15% das pessoas que se infectam com os vírus da AIDS ou da hepatite C conseguem de forma espontânea eliminar a doença nos seis primeiros meses após a infecção. Muitos cientistas procuram descobrir o que diferente possuem essas pessoas, quais proteínas ou mecanismo de seu sistema imunológico faz delas seres praticamente diferentes da maioria dos seres humanos.

Uma equipe de pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts - MIT e da Universidade de Harvard, reunidos no do Instituto Ragon, acredita ter chegado a compreender o mecanismo pelo qual alguns indivíduos conseguem eliminar o vírus de seu organismo, conforme publicado pela Revista Nature de 5 de maio último.

Eles encontraram que os indivíduos que conseguiam se livrar dos vírus da AIDS e da hepatite C possuem um gen chamado de HLA B57. Um gen é um segmento de ADN (o ARN no caso de alguns vírus) que indica ao organismo como produzir uma proteína especifica, sendo estimado que existam até 30.000 genes em cada célula do corpo humano, o que dificulta a investigação cientifica.

Os pesquisadores do Instituto Ragon encontraram que o gen HLA B57 induze o organismo a produzir células T mais potentes, especificas para combater o vírus invasor. As células T, chamadas de células assassinas, são geradas pelo sistema imunológico para combater invasores, como vírus e bactérias. Os pacientes com o gen HLA B57 conseguem produzir um número maior de células T, as quais combatem as proteínas que os vírus necessitam para sua reprodução, eliminando dessa forma o invasor e conseguindo a cura da doença ainda na fase aguda, imediatamente após a infecção.

O descobrimento parece ser um dos maiores acontecimentos científicos, mas esbarra no problema que o gen HLA B57 também faz com que o individuo fique susceptível a desenvolver doenças auto-imunes. Doenças auto-imunes são produzidas pelo sistema imunológico, quando o organismo passa a reconhecer como um invasor um órgão do próprio organismo, enviando células T para destruí-lo.

Sem ser um pesquisador tomo o atrevimento de fazer aqui uma observação pessoal, introduzindo a forma como o interferon atua no organismo, pois pode conseguir o mesmo beneficio do gen HLA B57 eliminando o vírus do organismo, deixando o paciente curado da hepatite C, mas também possui o mesmo perigo de causar ou "despertar" doenças auto-imunes, deixando o paciente com mais um problema, tal vez muito mais complicado de tratar, motivo pelo qual os pacientes devem ser criteriosamente selecionados antes de utilizarem o interferon.

O interferon e uma proteína produzida pelo próprio organismo ativando as células T para combater vírus invasores, tal qual foi colocado pelos autores do Instituto Ragon neste estudo em relação à ação positiva e negativa do gen HLA B57.

É amplamente conhecido que o tratamento da hepatite C utilizando o interferon provoca em um número significativo de pacientes o provável aparecimento de doenças, em geral as auto-imunes entre as quais podemos citar as doenças da tiróide, lúpus, psoríase, diabetes tipo 2, alterações no sistema nervoso central (depressão, irritabilidade, falta de concentração, perda de memória), distúrbio metabólico, hepatite auto-imune, síndrome de Sjogrens, síndrome do túnel do carpo, entre muitas outras.

É interessante o estudo publicado na Revista Nature, pois alerta com total propriedade que antes de se colocar um interferon no mercado, antes de ser autorizado seu uso pelas autoridades de saúde, deve ser obrigatório realizar exaustivos estudos clínicos, começando em animais e finalizando com as características três fases das pesquisas em seres humanos que são geralmente exigidas.

Querer registrar um produto como o interferon por uma simples via da comparabilidade ou por estudos de não-inferioridade poderá causar sérios danos, muitos irreversíveis, aos pacientes que utilizem tais produtos, não testados exaustivamente.

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
Effects of thymic selection of the T-cell repertoire on HLA class I-associated control of HIV infection - Andrej Kosmrlj, Elizabeth Read, Ying Qi, Todd Allen, Marcus Altfeld, Steven Deeks, Florencia Pereyra, Mary Carrington, Bruce Walker and Arup Chakraborty - Nature advance online publication 5 May 2010 doi:10.1038/nature08997; Received 13 October 2009; Accepted 11 March 2010; Published online 5 May 2010

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo