domingo, 22 de agosto de 2010

REDUZINDO A VELOCIDADE DE EVOLUÇÃO DA CIRROSE ENQUANTO SE PROCURA SUA REVERSÃO

Liver Health Today - Julho / Setembro 2010.

Pode a cirrose ser revertida? Pesquisadores têm declarado que atualmente mudanças fibróticas podem ser revertidas em laboratório e em estudos com animais, mas testes com drogas em humanos estão todavia muito distantes. Como com as drogas existentes que desaceleram a fibrose, pacientes com cirrose em estado avançado podem não ser capazes de tolerar as drogas na dosagem necessária. Todavia, pode ser possível para pacientes com cirrose avançada diminuir seus processos fibróticos utilizando as substâncias disponíveis existentes

Novas Ferramentas Diagnósticas.

O processo de formação de cicatrizes no fígado pode ser descrito como uma resposta à inflamação constante. Células hepáticas (radiadas, em forma de estrela) são ativadas e agem com a matriz extracelular (área entre as células) para começar o processo. Este processo é complexo e possui uma variedade de causas, mas basicamente, as células radiadas invadem a área entre as células com uma variedade de agentes de engrossamento. Este processo fibrogénico é dinâmico, e a fibrose pode ser revertida. A terapia para doenças específicas do fígado é uma medida anti-fibrótica, o tratamento para hepatites B ou C, por exemplo, podem levar à reversão da fibrose. Todavia, numerosos compostos anti-fibróticos desenvolvidos especificamente para reversão têm falhado em proporcionar alívio significativo.

O tratamento da fibrose deve focar em intervenções precoces, desde que pacientes com fibrose avançada têm menos chances de tolerar intervenções intensas, tendo índices de resposta menores. A biópsia é ferramenta padrão para determinar alterações na fibrose, mas a biópsia hepática é invasiva e acarreta maiores riscos para pacientes que mais precisam da intervenção. A biópsia também pode errar na leitura do nível de fibrose porque a amostra retirada de uma área pode não ser representativa do fígado como um todo.

Estamos aguardando o advento de novas tecnologias para acessar a cirrose hepática sem termos que confiar somente nas biópsias A elastografia transiente, tecnologia baseada em ultra-som, pode proporcionar uma alternativa não invasiva. Ela também cobre uma área cem vezes maior do que uma biópsia de fígado padrão. Embora a elastografia por ultra-som e a elastografia MRI (esta última mais acurada e mais custosa) ainda têm problemas a serem resolvidos, elas proporcionam a primeira oportunidade real de conduzir um teste não invasivo de possíveis tratamentos para a cirrose.

Tratamentos Atuais

Por no mínimo uma década, os pesquisadores têm tem procurado o “cálice sagrado” de um “gatilho” para a reversão da cirrose. Embora os pesquisadores tenham isolado caminhos mais específicos da inflamação que leva o fígado a formar cicatrizes a conversão de tal conhecimento em testes com uma droga piloto tem sido difícil.
Há dois anos, pesquisadores na Califórnia descobriram um ponto específico de ativação no processo de cirrose e utilizaram com sucesso um peptídeo (tipo de proteína) para bloquear a cirrose hepática. O peptídeo teve tanto sucesso que sujeitos que receberam o peptídeo quase não tinham mais cirrose. Logo a mídia divulgou amplamente que tínhamos descoberto a cura para cirrose, deixando de mencionar que os sujeitos do estudo eram ratos. Os pesquisadores consideraram começar testes clínicos em humanos, mas até agora o que nós temos são estudos exitosos sobre o peptídeo com ratos.

Existe atualmente um leque de possíveis tratamentos para diminuir o ritmo da fibrose, como documentado em resenha do Instituto Nacional de Saúde (NIH). Conforme o Dr. Dan C. Rockey, a colchicina mostrou ser bastante efetiva na inibição da síntese de colágeno, o que pode desacelerar a fibrose, mas os testes não exibiram um efeito significativo. O Interferon gama e angiotensin bloqueadores de receptor têm efeito sobre as células radiadas (stellate cells), diminuindo a ativação. O Interferon gama também pode ser muito efetivo para alguns subtipos de pacientes. O uso de “PPAR ligands” impacta as células radiadas por supressão de ativação, mas isto pode ser revertido quando a terapia é suspensa. A droga, Pirfenidona, pode reduzir a velocidade do processo fibrótico, mas tem efeitos colaterais significativos.

A resenha do Dr. Rockey também abrange alguns tratamentos fitoterápicos. Conforme a medicina chinesa, o ácido salvianólico B contido na sálvia pode desacelerar mudanças fibróticas. O mesmo extrato de sálvia tem demonstrado proteger o fígado e outros órgãos de uma variedade de agressões, e não há relatórios existentes de dano hepático provocado por ácido salvianólico. Todavia, o pesquisador ainda aconselha os leitores a evitar as ervas por causa de preocupações com a hepato-toxicidade. Suas preocupações sobre a possibilidade de hepato-toxicidade para aqueles realizando testes fitoterápicos com ervas desconhecidas são bem fundamentados. (Os pacientes devem verificar com seus médicos antes de ingerir qualquer remédio natural).
A única exceção que o Dr. Rockey faz entre as ervas é para a Silimarina (leite de cardo), que tem exibido efeito anti-fibrótico em múltiplos estudos com animais, mas precisa ser usado mais para prevenir a fibrose, mais do que para reverte-la. Ácidos ursodeoxicólicos (sais de bílis) também podem ser usados na prevenção, e seu uso extensivo no início da cirrose pode auxiliar a evitar fibrose.

Medicamentos Amplamente Disponíveis

A análise do Dr. Rockey de agentes preventivos da fibrose não se estendeu aos estudos com ratos. É curioso que um grande número de estudos com animais tem exibido reversão da fibrose com uma variedade de substâncias sem receber maior atenção da mídia. Muitas destas substâncias se encontram comumente disponíveis aos pacientes e têm demonstrado possuir outros efeitos benéficos no corpo humano. Os seguintes estudos sobre o fígado são baseados em animais, mas as substâncias são comumente usadas por humanos para outras propostas, dando a clínicos e pacientes um quadro estabelecido de efeitos colaterais.

1. N-acetyl cysteine (NAC): É um antioxidante usado por pacientes com fibrose cística crônica e para pacientes com overdose aguda de acetaminofeno. Um estudo recente mostrou que o NAC bloqueou o dano oxidante ao fígado e especificamente um agente pro-fibrótico. Na triagem, o grupo de controle tinha sete vezes mais cicatrizes do que o grupo tratado com NAC. Os pesquisadores recomendaram começar testes de controle de NAC para pacientes com cirrose.

2. Extrato de Alho Envelhecido: É freqüentemente utilizado por sua possível proteção contra doença cardiovascular. Topicamente, o extrato de alho envelhecido tem exibido a capacidade de aumentar o crescimento de vasos sanguíneos. Um estudo japonês sobre o extrato de alho envelhecido revelou que o mesmo teve um desempenho tão bom quanto o NAC contra a fibrose, com um terço de dosagem.

3. Extratos de Chá Verde: Testes para prevenir câncer oral se encontram em fase II, e os pacientes podem estar ingerindo chá verde para uma variedade de outros tipos de câncer, ou para benefícios cardiovasculares. A pesquisa do chá verde demonstra a prevenção de mudanças na fibrose hepática, seja química (envenenamento) ou mecanicamente (fechamento do duto biliar) induzida.

4. Resveratrol (extrato de semente de uvas) e curcumina (cúrcuma) têm demonstrado desacelerar as mudanças fibróticas em animais. . Mais amplamente, proantocianidinas, compostos achados em frutas e vegetais, tem amplos efeitos antiinflamatórios e funcionam para reduzir a ativação das células hepáticas radiadas.

5. Alcaçuz (Glycyrrhiza glabra): Pode provocar sérios efeitos colaterais, mas permanece amplamente disponível como alimentos. Os pacientes com freqüência não a associam com suas propriedades medicinais, a despeito de seu uso como medicamento por mais de 2000 anos. Uma ingestão alta de alcaçuz deve ser considerada como parte de um histórico amplo de saúde. O amor por alcaçuz pode ser associado com estresse crônico elevado, desde que o alcaçuz auxilia a manter níveis de cortisol altos no corpo, proporcionando aos que o ingerem energia aumentada. Pesquisadores japoneses têm utilizado um composto com alcaçuz por 60 anos como ingrediente ativo no tratamento de hepatite, oferecendo aos indivíduos que participaram nos testes um histórico de boa segurança clínica. As pesquisas apontam para uma possível participação do alcaçuz na prevenção de hepatite ativa e na conversão a câncer hepático.
Em outra nota, a planta de lúpulo (sem álcool) traz benefícios na prevenção de mudanças hepáticas em animais. Contrariamente, o uso de maconha, parece aumentar as chances de fibrose hepática. Muitas outras plantas têm demonstrado prevenir dano hepático em modelos animais e estão em triagens preliminares para humanos, para outras doenças.
A conversão de estudos em animais para testes reais em humanos está comprometida pela velocidade do desenvolvimento da fibrose e a dosagem das substâncias discutidas em esta secção. Os animais são “fibrosados” muito rapidamente em laboratório, e os compostos são ministrados em doses muito altas para deter a fibrose. Para testes em humanos, a dosagem requerida para obter um benefício significativo deve no mínimo aproximar o mesmo nível de dosagem, levando a substância fora da classificação de droga para o âmbito de alimento em termos de quantidade. Os animais são freqüentemente alimentados com as substâncias experimentais como um pequeno percentual de sua ingestão total de alimentos. Ou então eles recebem de 20 a 50 miligramas por quilograma do seu peso. Os médicos podem precisar considerar gramas em lugar de miligramas de substâncias para testes humanos e a dosagem dependendo do peso do paciente, mais do que aplicar uma dosagem padrão para pacientes gordos e magros, ou grandes e pequenos. Esta super-dosagem seria insustentável a curto prazo, sem um bom perfil de segurança. Adicionalmente, doses maiores podem ser insustentáveis do ponto de vista de custo em longo prazo, sem benefícios significativos.
O advento de um equipamento diagnóstico não invasivo auxiliará a tornar testes clínicos mais breves e definitivamente possíveis. A capacidade de acessar diretamente a fibrose hepática permitirá um monitoramente ativo de diversas intervenções clínicas. Enquanto testes com drogas continuarão sendo limitados a graus moderados de cirrose, o uso de agentes botânicos, particularmente aqueles dentro do setor de alimentos, guarda o potencial ainda não utilizado de auxiliar indivíduos com cirrose em estado mais avançado.

Texto traduzido pela Ong Transpática - SP

Claudio Costa

Grupo Amarantes