sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Novos tratamentos para a hepatite C chegam ao Brasil

Já usados na Europa e nos EUA, o telaprevir e o boceprevir foram aprovados pela Anvisa. A expectativa é que estejam disponíveis na rede pública em 2012

Novos medicamentos para a hepatite C (HCV) vão aumentar a chance de cura para portadores da doença, que atinge entre dois e três milhões de brasileiros. Os tratamentos são eficientes, porém, em consequência da associação a drogas mais antigas, os efeitos colaterais podem aumentar.

A terapia usada atualmente, que consiste na combinação das substâncias interferon e ribavirina; alcança uma média de cura de 50%. Já as novas drogas, segundo pesquisa publicada no New England Journal of Medicine, elevam a taxa de cura para 60% a 70% e são capazes de reduzir o tempo de tratamento em até seis meses.

Marcelo Simão Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que o tratamento utilizado até o momento estimulava as células imunológicas do indivíduo para a destruição do vírus. Ele pontua que agora temos acesso a uma droga inibidora que impede a replicação, porém, que vale apenas para o genótipo 1.

“É fato que os efeitos colaterais, como febre, dor de cabeça, anemia, erupções cutâneas, cansaço e irritabilidade, elevarão em potencial, uma vez que o paciente passará a tomar mais remédios. Entretanto, tais efeitos adversos são controláveis, havendo apenas um sacrifício maior por parte do paciente, que ao final do tratamento será recompensado”, avalia.

Diagnóstico

O principal método diagnóstico para a hepatite C continua sendo a sorologia pelo método ELISA. Porém, é necessário outro teste para confirmação, especialmente em pacientes com anti-HCV reagente que não apresentem fator de risco aparente. Nesses casos, o ELISA poderia representar “cicatriz sorológica” de infecção passada já curada ou falso-positivo.

Outro ponto importante é em relação aos soropositivos. O percentual de infectados pelo HIV é grande, sendo que entre 15% e 20% deles possuem a hepatite C associada. “Todo soropositivo deve ser testado para hepatite C e todo cuidado deve ser tomado; são casos mais difíceis de tratar e os estudos sobre as novas drogas relacionadas a esta questão ainda são preliminares”, alerta Marcelo Simão.

Brasil

O Brasil trata apenas dez mil pessoas infectadas por ano, ou seja, um percentual irrisório perto da quantidade total de doentes no país – os já citados dois a três milhões. Isto porque geralmente o paciente é assintomático, não sabendo que é portador do vírus e, assim, não se submetendo a qualquer tipo de teste.

“É comum ver pessoas que tenham sido infectadas há 30 anos e souberam da doença apenas agora, devido, por exemplo, à descoberta recente de cirrose. Assim, é importante a criação de campanhas no sentido de alertar a população, em especial aqueles que já usaram drogas injetáveis no passado e/ou usam atualmente; ou realizaram transfusões sanguíneas.”

O intuito do Ministério da Saúde é implantar ambas as drogas na rede pública em 2012, uma vez que o tratamento é caríssimo: custa R$ 48 mil. Entretanto, os novos medicamentos não são indicados a todos os portadores da doença. Isto porque, conforme Marcelo Simão, há um percentual de pacientes que responde muito bem aos encaminhamentos tradicionais.

“Grupos que obtêm a cura através do tratamento convencional, como jovens e portadores de pequena quantidade do vírus, não precisarão recorrer ao boceprevir ou ao telaprevir. Entretanto, há pacientes de tratamento mais difícil, como obesos, idosos, diabéticos, pessoas com cirrose e também aqueles que não responderam ao tratamento inicial (não respondidos e recidivantes); esses terão de associar as drogas já utilizadas às novas. Para isso, precisamos estabelecer as indicações corretas para o aumento da chance de cura”.

Um terceiro remédio tem apresentado resultados promissores. O alispolivir tem vantagem importante sobre as drogas que entrarão no mercado brasileiro: funciona contra os três principais genótipos do vírus da hepatite C. “Ainda não há expectativas no Brasil; mas a eficácia é grande, já que não atua somente contra o tipo 1. Estudos recentes demonstraram que, combinado com a ribavilina por 12 semanas, pode curar até 100% dos portadores do genótipo 3”, pondera Marcelo Simão.