sexta-feira, 4 de abril de 2014

Hepatite - Silenciada por todos



Existem quatro grandes silêncios nas hepatites sendo o silencio dos infectados o mais preocupante, o mais perigoso, o pior dos vírus que pode atacar um ser humano. Quando a epidemia é silenciada pelos próprios infectados as notificações, os óbitos e os meios de comunicação continuarão "silenciosos" e os governos não precisarão se preocupar com o problema. 


- O silencio nas notificações 

Notificar as hepatites, pelo menos no Brasil e em muitos outros países é extremamente burocrático, complicado e demorado. É necessário completar tanta informação que muitos profissionais de saúde não possuindo o tempo necessário simplesmente não notificam. Muito provavelmente mais de 60% dos casos suspeitos de hepatites B e C não estão sendo notificados, não aparecendo nas estatísticas da saúde. 

Para cada abertura de um caso suspeito é necessário se realizar a chamada busca ativa. Não é o profissional de saúde que deve fazer a busca ativa do caso, isso é função da vigilância epidemiológica municipal, mas como faltam funcionários muitas vezes não é realizada e se a busca ativa não é completada em seis meses a notificação que foi aberta vai simplesmente "cair" e não entrara nas estatísticas. Já se chegou ao ponto de vigilâncias epidemiológicas municipais devolverem a ficha ao medico, solicitando que ele procure realizar a busca ativa com os familiares e circulo social, um verdadeiro absurdo. 

Saúde publica se faz para atender demanda. Se as notificações não são realizadas aparentemente o problema não existe e portanto não são necessárias grandes ações por parte do governo. Esconder a realidade parece ser um bom negocio para os governos. 


- O silencio nos atestados de óbitos 

Um problema no mundo todo. Noventa por cento dos infectados com hepatites ainda não foram diagnosticados, pior ainda, apos a morte de uma pessoa será que alguém vai fazer os testes das hepatites? Até em mortes de pacientes cirróticos é comum encontrar a causa da morte como falência generalizada dos órgãos, mas sem identificar a causa da cirrose. 

A hepatite C é "sub-documentada" nos atestados de óbito de pessoas que morrem com a doença. De acordo com um relatório publicado na edição de 12 de fevereiro de 2014 da "Clinical Infectious Diseases" apenas cerca de 20% das pessoas com doença hepática crônica relacionada a hepatite C a doença não aparecia como uma das causas de morte, apesar de a maioria ter evidência de fibrose hepática moderada ou avançada. 

Por tanto, se são poucas as mortes comprovadas por culpa da hepatite o problema também não aparece e não passa a ser um grave problema. Esconder a realidade parece ser um bom negocio para os governos. 


- O silencio dos meios de comunicação 

Muito pouco aparecem na mídia reportagens sobre as hepatites, um tema que ainda não despertou o interesse dos jornalistas. Raramente são realizadas na grande mídia campanhas de grande alcance esclarecendo sobre a doença e alertando sobre a necessidade da prevenção e da realização dos testes das hepatites. 

Por tanto, se a hepatite também não aparece na mídia parecerá não se tratar de um grave problema. Esconder a realidade parece ser um bom negocio para os governos.


- O silencio dos infectados 

A internet trouxe a comunicação e informação instantânea ao alcance de todos, inclusive informação sobre doenças pelo Dr. Google, mas esta provocando uma nova doença que eu chamo de individualismo nas relações sociais. 

Até poucos anos atrás os pacientes procuravam os grupos de apoio para receber informações e isso os tornava participativos ativos nos movimentos reivindicatórios para receber atenção dos governos, mas na atualidade os infectados de uma doença se escondem no anonimato da internet para obter informações, esvaziando a participação social nas demandas coletivas, uma das piores coisas que poderiam acontecer no controle social. 

O Grupo Otimismo está realizando um abaixo assinado utilizando a técnica antiga da folha de papel e solicitando aos voluntários que procurem levantar o maior numero de assinaturas. Muitos questionaram se não era mais fácil e pratico utilizar os sites da internet para abaixo assinados "on line", mas o objetivo, além de pressionar por novos medicamentos é o de tentar estimular a participação dos infectados se envolvendo diretamente, fazendo que sintam fazer parte do processo. Se fosse realizado pela internet todos continuaram "sentados" esperando que desconhecidos assinem a petição, mas não seria uma iniciativa dos maiores interessados: os pacientes. 

Objetivamos com o abaixo assinados em papel sair do marasmo que tomou conta da população. É necessário sair da frente do computador e voltar a interagir socialmente com aqueles que compartilham dos mesmos problemas, é necessário trocar informação pessoalmente e quando necessário participar em grupo para obter melhorias no atendimento na saúde pública. Chegamos ao ponto critico que a falta de participação esvaziou a representatividade da maioria das associações de pacientes de AIDS e de hepatites, muitas das quais até deixaram de fazer reuniões pela falta de procura por parte dos infectados. Como lutar sem representatividade, qual a voz dessas associações? Isso pode até ser considerado um bom negocio para os governos, mas certamente não é nada bom para os pacientes que necessitam de ações positivas por parte dos governantes. 

Por tanto, se levante da cadeira, não espere sentado chegar a morte, acorde antes que seja tarde e vamos voltar aos não tão velhos tempos de quando os problemas se discutiam em grupo presencial, em reuniões entre os próprios interessados. 

Espero e desejo que o abaixo assinado à moda antiga, no papel, possa contribuir para você recuperar sua cidadania e fazer valer sua voz. 

Carlos Varaldo
www.hepato.com
hepato@hepato.com