terça-feira, 24 de março de 2009

Jovem consume suplemento para emagrecer e contraiu hepatite

Ante um novo caso, o doutor Hugo Tanno diz que os suplementos, em alguns casos, podem produzir problemas hepáticos sérios. Deveria haver advertências nas etiquetas dos produtos. A percentagem de afetados é muito pequena.

A ação judicial de uma jovem da cidade de Rosario, Argentina, a uma empresa fabricante de suplementos para emagrecer, aos que atribuiu ter sofrido reações alérgicas e uma insuficiência respiratória, coloca em evidencia problemas similares. Outro jovem da mesma cidade chegou ao Hospital Centenário com intoxicação hepática e seu caso foi o primeiro relatado no país de hepatite "inegavelmente vinculada ao consumo do Herbalife", conforme assinalaram os profissionais que o atenderam. A história clínica do paciente foi apresentada em um seminário da carreira de pós-graduação em Gastroenterologia do hospital, realizado em 2007. O caso está fundamentado em estudos internacionais que chegaram aos mesmos resultados. "Herbalife não é ruim para todos, mas em alguns casos pode produzir uma intoxicação no fígado", destacou o chefe do Serviço do Gastroenterologia do Centenário, Hugo Tanno, quem foi o médico que em seu momento atendeu ao paciente e pôde comprovar que sua enfermidade se devia ao consumo desses produtos. O tema é um tópico de debate internacional. E a partir deste caso, os gastroenterologos da cidade de Rosario incluíram no questionário de rotina se o paciente consume Herbalife. O NOVO CASOTranscorria o ano 2007 quando o médico recebeu em seu consultório a um paciente com claros sintomas de hepatite, uma inflamação do fígado causada por um vírus ou um medicamento. Estava amarelo, a urina era escura e manifestava que se sentia muito cansado. "Descartadas as causas comuns da doença, viu-se que, fora a alimentação normal, o único que consumia o paciente eram complementos para sua dieta. Foi então advertido que certas ervas do Herbalife podiam estar lhe produzindo toxicidade no fígado, mas o paciente só acedeu transitoriamente a suspender a medicação", contou o Dr. Tanno. Ainda assim, o paciente reincidiu três vezes. "Quando se sentia bem tornava a ingerir o suplemento e então piorava. Isto levou a que lhe fizesse uma biópsia hepática, que demonstrou convincentemente que o paciente sofria uma lesão produzida pelo produto dietético", confirmou o médico. Casualmente, em pleno tratamento, o paciente voltou a ter um novo brote e a deteriorar-se. Enquanto a equipe médica estudava o caso, a revista científica Journal of Hepatology do ano 2007 publicou 20 casos de pacientes israelenses e suíços com intoxicação hepática pelo consumo do Herbalife. O título dos trabalhos era "A associação do consumo de suplementos nutricionais do Herbalife e a hepatotoxicidade" e reportavam o mesmo quadro que o paciente em questão. A contundência das publicações científicas fez que fosse suspendido o suplemento dietético e o paciente melhorou. Tanno o revisou faz duas semanas e comprovou que "o funcionamento de seu fígado é normal". NÃO É PARA TODOS"Herbalife não é ruim para o fígado" quis deixar em claro o médico, mas sim "há fígados que não são bons para o Herbalife". De fato, entre milhões de consumidores são poucos os que se intoxicam. "Não quero demonizar o produto - afirmou o gastroenterólogo-. Terá que distinguir entre a possibilidade e a probabilidade. A toxicidade é possível, mas pouco provável, e de fato há provas conhecidas". Tanno sugeriu que nas etiquetas destes produtos "teria que haver uma advertência sobre os potenciais efeitos adversos que podem produzir no fígado", já que os suplementos podem confundir-se com medicamentos, embora se autorizem como suplementos. Já existem "mais de sete publicações médicas que falam da toxicidade destes suplementos, sem contar com o subnotificação (casos de hepatite não diagnosticados)", advertiu. Da mesma maneira em que o fazem os medicamentos nas bulas, onde esclarecem contra-indicações, "assim deveria ser feito pela empresa multinacional", opinou o gastroenterologo. Em coincidência, muitas publicações científicas (como por exemplo, as que reportaram as investigações de médicos israelenses, avalizados pelo Ministério de Saúde de seu país) fazem explícito um chamado a uma "mudança da regulação concernente aos suplementos nutricionais que explicitem os efeitos adversos". Tal como passa com os medicamentos, o paracetamol também pode produzir danos hepáticos e no prospecto se lê que, entre as reações adversas, "o efeito mais grave pela overdose é uma necrose hepática". O mesmo ocorre com certos antiinflamatórios como o diclofenax. Tanno disse que se um paciente lhe perguntar se pode tomar Herbalife não pode lhe dizer que não. "Mas lhes advirto que se perceberem algum sintoma estranho consultem porque existe a possibilidade de que gere efeitos tóxicos", esclareceu. CAUSA DANOS EM ALGUNS CONSUMIDORESHerbalife é um suplemento dietético que se oferece como um alimento. O estudo de Alain Schoepfer publicado na revista Journal of Hepatology (2007) assinala que os produtos desta marca "estão realizados com plantas e ervas enriquecidas com nutrientes, azeite, minerais e vitaminas. Geralmente, o número exato de produtos, assim como sua composição, é desconhecido. Por isso é difícil especificar qual delas são as que provocam toxicidade ao fígado". Na mesma linha, o chefe da cadeira do Gastroenterologia do Hospital Centenário, Hugo Tanno, assinalou que "há compostos que têm certas ervas que podem ser tóxicas. Não se trata da erva em si, mas sim da união de produtos dessa erva com determinadas proteínas do organismo". E, até o momento, é no fígado onde mais se vêem os efeitos tóxicos do Herbalife. Na próxima semana em um congresso latino-americano de fígado, Tanno comentará os avanços da hepatite nos últimos 20 anos. Justamente abundará sobre o consumo de suplementos e medicamentos homeopáticos, que também produzem conseqüências negativas no organismo.

Tradução:
Carlos Varaldo
Grupo Otimismo