segunda-feira, 24 de maio de 2010

Historia natural da progressão da cirrose causada pela hepatite C - O que acontece após a cirrose?

Atualmente 1 de cada 4 infectados com hepatite C (25% dos infectados), se não diagnosticados e tratados adequadamente, estará chegando a desenvolver cirrose antes da sua morte natural pela velhice, um número que assusta devido aos milhões de infectados que ainda desconhecem que estão doentes. Pior ainda, devido ao envelhecimento dos infectados e a progressão natural da doença e estimado que em 2020 até 40% dos infectados estarão com cirrose.

Por esse motivo e interessante a revisão sistemática de 12 publicações científicas realizada por um grupo de pesquisadores do Reino Unido que foi apresentada no último congresso da EASL.

Partindo do fato que muito já se conhece sobre a evolução natural da hepatite C, estudos esses que na maioria consideram a cirrose como ponto final, mas que existem poucas informações sobre a progressão a partir do ponto onde aparece a cirrose, os pesquisadores selecionaram os estudos para avaliar o que acontece com os pacientes com cirrose compensada (cirrose compensada e aquela que não apresenta sintomas, como ascite, hemorragias ou encefalopatia), que receberam o tratamento da hepatite C e comparando o que acontece com aqueles infectados não tratados.

No total foram incluídos dados de 2.138 pacientes com hepatite C e cirrose.

Nos pacientes com cirrose compensada se encontrou que a possibilidade de morte, ou da necessidade de um transplante de fígado, era de 4,75% ao ano, isto é, 1 de cada 21 cirróticos estaria morrendo ou sendo transplantado a cada ano.

A descompensação da cirrose atinge a 5,61% ao ano dos pacientes com cirrose compensada, assim, 1 de cada 18 pacientes com cirrose compensada chega a descompensar a cada ano.

Já o câncer no fígado aparece com uma probabilidade de 3,76% ao ano nos pacientes com hepatite C e cirrose compensada, isto é, 1 de cada 27 pacientes com cirrose compensada chega a desenvolver câncer no fígado a cada ano.

Em cinco dos doze estudos foi possível estimar as diferenças entre pacientes tratados e não tratados. A possibilidade de desenvolver câncer no fígado entre os tratados era de 2,51% contra 5,20% nos não tratados. A descompensação dos cirróticos compensados era de 5,34% nos que receberam tratamento contra 9,58% nos não tratados. Já a possibilidade de morte, ou da necessidade de um transplante de fígado entre os tratados era de 3,84% contra 4,76% entre os não tratados.

Os pesquisadores concluem que os resultados confirmam que a cirrose compensada possui uma progressão lenta, porém ressaltam a necessidade de manter uma vigilância continua devido à possibilidade do aparecimento do câncer no fígado, inclusive nos pacientes curados da hepatite C.

Já ou meu comentário, ou melhor, dito, a minha conclusão, e que em qualquer uma das possibilidades um infectado com hepatite C que não for diagnosticado precocemente e não receba o tratamento adequado, possui o dobro de possibilidades de descompensar a cirrose, necessitar de um transplante de fígado, ter um câncer ou morrer por culpa da hepatite C.

À medida que se conhece mais profundamente as conseqüências de não diagnosticar os infectados com hepatite C fica mais evidente a imediata necessidade de realizar campanhas de detecção dos infectados. É necessário chamar a população para a realização do teste de detecção quanto antes.

Estamos sentados acima de uma bomba viral que já se encontra com o pavio acesso. Lamentavelmente alguns gestores da saúde pública ainda tentar ignorar, ou esconder, o tamanho do problema.

Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:
EASL 2010 - Abstract: 1038 - Journal of Hepatology, Supplement No 1, Volume 52, 2010, Page S402 - NATURAL HISTORY OF COMPENSATED CIRRHOSIS DUE TO CHRONIC HEPATITIS C INFECTION: A SYSTEMATIC REVIEW - W. Alazawi, M. Cunningham, J. Dearden2, G.R. Foster - Centre for Digestive Diseases, Barts & The London School of Medicine, Digestive Diseases Clinical Academic Unit, Barts & The London School of Medicine London NHS Trust, London, UK

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo