terça-feira, 14 de setembro de 2010

A aderência ao tratamento será fundamental no aumento da possibilidade de cura na hepatite C com a chegada dos inibidores de proteases

O tratamento da hepatite C depende de uma serie de fatores que aumentam ou diminuem a possibilidade de sucesso no tratamento com interferon peguilado. Alguns desses fatores não podem ser alterados, mas muitos deles dependem da aderência do paciente e da realização do tratamento por uma equipe multidisciplinar.

Quando os novos medicamentos chegarem ao mercado, já em 2011, uma nova era na historia da cura da hepatite C estará sendo iniciada. Os novos medicamentos estarão aumentando a possibilidade de cura, mas para conseguir isso o tratamento passará a ser realizado com três medicamentos ao mesmo tempo, o interferon peguilado, a ribavirina e os inibidores de proteases, cada qual com seus efeitos colaterais e adversos, o que obrigatoriamente vai necessitar de um acompanhamento médico muito mais de perto.

O tratamento multidisciplinar será de fundamental importância e deveria passar a ser praticamente obrigatório. O tratamento multidisciplinar está sendo colocado nos congressos internacionais como o fator chave para aumentar a resposta terapêutica, lamentavelmente tenho que criticar uma pequena parte do novo consenso da Sociedade Latino-americana para Estudo do Fígado (ALEH) já que não contemplou o tratamento multidisciplinar nas suas recomendações.

A falta de adesão do paciente quando tratado por um único médico apresenta um considerável número de fracassos, seja pela necessidade de interrupção do tratamento devido à detecção tardia dos efeitos adversos, chegando a resultar na interrupção do tratamento de entre 12 e 15% no total de pacientes que iniciaram o tratamento ou, por falta de adesão aos horários e dias recomendados para aplicação ou ingestão dos medicamentos. Estudos realizados nos Estados Unidos chegam à constatação que até 60% dos pacientes não aplicam o interferon no dia programado ou esquecem-se de tomar a ribavirina todos os dias. A maioria desses pacientes respeita o dia de aplicação do interferon peguilado, mas não respeita seguir rigorosamente os horários da ribavirina. São esses pacientes que acabam indetectáveis e nos seis meses seguintes ao final do tratamento o vírus recidiva.

Por exemplo, no genótipo 1 foi comprovado que pacientes que completaram o tratamento com boa aderência conseguiram 51% de cura, já os que desleixavam nos horários, dias de aplicação ou dosagens, conseguiram somente 34% de cura. Isto é, se você tiver aderência ao tratamento a possibilidade de cura é 50% maior que se não tiver aderência. Depende de você!

Com a chegada dos inibidores de proteases a falta de aderência ao tratamento poderá provocar resistência aos medicamentos devido a mutações que acontecem com o vírus e, nesses casos, muito provavelmente o paciente será um não respondedor, perdendo o tratamento.

Assim, um novo fator será fundamental: A educação do paciente!

Educar um paciente leva tempo e paciência, já que a hepatite C e seu tratamento são altamente complicados, mas está mais que comprovado que os pacientes bem informados são os que apresentam as maiores possibilidades de cura.

Veja os fatores que influem na maior ou menor possibilidade de um paciente conseguir sucesso com o tratamento:

Entre os fatores do próprio paciente (hospedeiro) que influem na possibilidade de sucesso com o tratamento temos a raça (cor da pele), o índice de massa corporal (peso do paciente), a idade, o sexo (masculino ou feminino) e o consumo de bebidas alcoólicas.

Nos fatores ligados ao vírus que influem na possibilidade de sucesso com o tratamento se encontram o genótipo (1 e 4 respondem menos que os genótipos 2 e 3) e a Carga Viral (alta ou baixa no início do tratamento).

Existem fatores da doença que influem na possibilidade de sucesso com o tratamento como o grau de fibrose e a co-infecção HIV/HCV.

Entre os fatores da aderência que influem na possibilidade de sucesso com o tratamento temos a educação do paciente, o tratamento personalizado conforme a resposta, o tratamento dos efeitos adversos, a dosagem da ribavirina e, finalmente o tratamento multidisciplinar.

Vemos então pelos fatores acima que o paciente muito pode fazer para aumentar a sua possibilidade individual de cura, cuidando daqueles fatores que são da sua absoluta responsabilidade. Se o paciente estiver acima do peso é conveniente perder o excesso antes de iniciar o tratamento, já que paciente magro responde melhor que paciente gordo, se a glicose estiver acima do normal o tratamento dela vai ajudar, assim, como o controle da resistência a insulina por um médico endocrinologista. Uma visita ao dentista para evitar que surjam problemas durante o tratamento, o que poderá ocasionar uma indesejada intervenção com a utilização de antibióticos e antiinflamatórios é fundamental. Esquecer das bebidas alcoólicas totalmente e passar a ter uma dieta balanceada muito ajudam, lembrem da importância da alimentação. Iniciar a prática rotineira de exercícios físicos aeróbicos, umas quatro ou cinco vezes por semana é altamente recomendável.

Se você se identifica como ansioso ou depressivo, por favor, procure antes do tratamento um bom psiquiatra, inclusive para acompanhá-lo durante todo o tratamento. O psiquiatra deve se comunicar com o médico que cuida da hepatite C e discutir qual medicamento é melhor. O mais recomendado atualmente é o Citalopram.

Ter persistência em seguir as recomendações sobre educação do paciente é fundamental, pois nas primeiras semanas do tratamento todos os pacientes cumprem praticamente tudo o acordado, mas com o passar das semanas muitos descuidam das regras estabelecidas podendo colocar tudo a perder.

CONCLUSÃO:

A cura da hepatite C com a chegada dos novos medicamentos vai ser conseguida pela grande maioria dos infectados, isso é muito bom, mas não tudo são flores, pois os efeitos colaterais e adversos dos tratamentos serão maiores que os atuais, alguns muito desagradáveis. Um número elevado de pacientes vai sentir prurido ou diarréia, duas condições que diminuem a qualidade de vida e poderão aumentar a depressão causada pelo interferon. Isso poderá diminuir a adesão ao tratamento se o paciente não tiver um acompanhamento, de preferência semanal, por uma equipe multidisciplinar.

Com a chegada dos novos tratamentos todos os pacientes que nos últimos 10 anos não responderam ao tratamento estarão querendo ser tratados imediatamente. Se a isso sumamos os novos pacientes é fácil concluir que a capacidade de atendimento nas clinicas e hospitais deverão ser o triplo da atual, isso já para o final de 2011 e 2012, mas sabendo disso, alguém está se preparando para tal crescimento? Não vejo tal movimentação no mundo, a exceção de algumas medidas que estão sendo implementadas pelo governo Frances.

Considero que a internet pode ajudar muito na educação do paciente (esse é um dos programas principais do Grupo Otimismo) e, também, as associações de pacientes poderão contribuir com a educação do paciente, mas quando vemos que existem milhões e milhões de infectados com a hepatite C devemos compreender que o problema é de saúde pública e que os governos de todo o mundo devem criar programas próprios para hepatite C.

Colocar a hepatite C subordinada a AIDS é desaconselhável para qualquer governo poder enfrentar a epidemia com uma política firme. É ilógico que a própria Organização Mundial da Saúde tenha orientado na sua resolução que todos os esforços devem ser orientados a primeiramente tratar quem esta infectado com AIDS e hepatite C, deixando em segundo plano aqueles que somente têm hepatite C.

Como isso é possível de aceitar se existem cinco vezes mais infectados com hepatite C que com AIDS? Simples, o lobby da AIDS é muito mais forte e agressivo. Até no consenso da Sociedade Latino-americana para Estudo do Fígado (ALEH) conseguiram se impor. Consta no consenso que entre 9 e 30% dos infectados com hepatite C também estão infectados com a hepatite B. Já quando colocam a co-infecção HIV/HCV colocam que aproximadamente 25% dos infectados com AIDS tem também hepatite C. Não é estranho que a forma como foi colocada a questão tenha sido invertida?

Na hepatite B o percentual é sobre os infectados com hepatite C, na AIDS o percentual é sobre os infectados com AIDS, que são em número cinco vezes menor. Se tivessem seguido o mesmo parâmetro que o utilizado na hepatite B, deveriam ter colocado que somente 6% dos infectados com hepatite C também estão infectados com AIDS, mas dessa forma estaria mostrando que os esforços principais deveriam ser direcionados a mono infecção. O lobby da AIDS mais uma vez conseguiu triunfar sobre a hepatite C!

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo