terça-feira, 19 de outubro de 2010

Campanha Nacional de alerta contra a Hepatite C - Vários atletas da década de 60. 70 e 8o foram contaminados pelo vírus da hepatite c

Os números apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são alarmantes: No mundo, cerca de 200 milhões de pessoas estão infectadas pelo vírus da hepatite. No Brasil, três milhões são portadores dos tipos B e C, sendo os atletas das décadas de 60, 70 e 80, uma das categorias mais afetadas.

Com o objetivo de chamar a atenção da população, em especial dos atletas, para o problema, o presidente da Federação das Associações de Atletas Profissionais (FAAP), Wilson Piazza, capitão da seleção brasileira campeã da Copa do Mundo da década de 1970 está a frente da campanha nacional de conscientização contra as hepatites virais, juntamente com a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH).

Segundo o presidente da SBH, Raymundo Paraná, a maioria dos atletas daquela época está contaminada e não busca tratamento por não saber que corre o risco de estar doente, já que o vírus evolui silenciosamente por décadas, chegando a fases avançadas de insuficiência hepática ao longo de 20 a 40 anos, perdendo assim a chance de diagnóstico e do tratamento em fases reversíveis da doença.

O fato de tantos atletas estarem contaminados pelo vírus da Hepatite C se deve à forma de serem tratados à época. Era comum a utilização de seringas de vidro mal esterilizadas na aplicação de medicamentos. Os ex-atletas, principalmente jogadores de futebol, foram vítimas desta prática não só para aplicação de vitamínicos e estimulantes, como também para as famosas infiltrações de corticóide para conter as dores articulares, fruto do desgaste. Neste contexto também foram expostos uma legião de atletas amadores.

Para o presidente da FAAP, Wilson Piazza, o número de portadores da hepatite é surpreendente. “A impressão que temos é que só não está doente quem não fez o exame e ainda não sabe. Por isso o trabalho de conscientização é fundamental para que os ex-atletas procurem as unidades de saúde, façam os exames e, se necessário, o tratamento”, ressaltou Piazza.

ENTIDADES SE UNEM EM ALERTA CONTRA A HEPATITE C

A Federação das Associações de Atletas Profissionais (FAAP) e a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) estão à frente da campanha nacional de alerta contra a Hepatite C que deverá ser levada a termo até 19 de maio deste ano, dia mundial da Hepatite C.
Por mais de uma década o Brasil tem dedicado especial atenção à AIDS e tem demonstrado que é um país capaz de responder às suas demandas por meio do departamento DST/AIDS, motivo de orgulho para todos os brasileiros. Agora, sabiamente, este departamento do Ministério da Saúde aumentou o seu escopo de ação tornando-se o departamento DST/AIDS/Hepatites Virais, em reconhecimento a importância do tema. Infelizmente as Hepatites Virais, embora como problema de saúde pública de impacto inigualável, ainda não conseguiu ter a sua visibilidade no limite da sua importância.

A Organização Mundial da Saúde reconhece que no mundo existem 300 milhões de portadores do vírus da hepatite B e 200 milhões do vírus da Hepatite C. No Brasil. Os dados são escassos, mas a maioria dos estudos demonstra heterogeneidade na distribuição do vírus da Hepatite B que se situa mais nas pequenas cidades localizadas, sobretudo, nas regiões mais pobres do país (Norte e Nordeste), enquanto que o vírus da Hepatite C tem uma distribuição mais homogênea.

A partir destes estudos, pode se definir que mais de dois milhões de brasileiros estão infectados, mas a maior parte deles se encontra fora da rede SUS, até porque esta é uma doença que evolui silenciosamente por 2 a 4 décadas.

A Hepatite C lota os ambulatórios de Hepatologia do país. É responsável pela indicação de mais de 80% das Biopsias de fígado na Bahia e por cerca de 60% dos transplantes de fígado no país. Apesar dos números alarmantes, poucos brasileiros alcançam a rede de saúde para tratar a doença. Também há a necessidade de mais programas de Educação Médica Continuada aliados à programas de educação a esclarecimento à população. No caso particular da Hepatite C, temos peculiaridades no Brasil que justificam campanhas de esclarecimento com elevadas chances de sucesso na introdução de muitos pacientes portadores do Vírus na rede pública de saúde.

A Hepatite C tem cura e controle se tratada a tempo. O Ministério da saúde oferece o caríssimo tratamento cuja duração varia de 24 a 48 semanas. Falta detectar os pacientes que estão fora da rede de assistência.

MEMÓRIA

Em 1999, o ambulatório de doença de fígado do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da UFBA, em Salvador-BA, observou um elevado número de ex-jogadores de futebol da Bahia frequentando o ambulatório. Um deles me referiu à perda de muitos colegas contemporâneos do seu time da região de Feira de Santana/BA.

Naquele momento, foi solicitado ao este paciente que convocasse todos os seus colegas, doentes ou não, para uma avaliação. Para surpresa de todos, quatro deles atenderam ao pedido e foram avaliados. Todos tinham Hepatite C, embora três deles não tivessem qualquer sintoma. Realizada a análise genética do Vírus percebeu-se que se tratava da mesma fonte. Este artigo foi publicado em 1999 na conceituada revista médica internacional American Journal Gastroenterology.

A partir de então, vários hepatologistas do Brasil se manifestaram no intuito de confirmar que tinham exatamente esta mesma experiência nos seus ambulatórios em São Paulo, Mato Grosso, Ceará e Rio Grande do Sul. Posteriormente, um dos médicos do Rio Grande do Sul apresentou no Congresso da Associação Européia para o Estudo do Fígado – EASL, o acompanhamento de 71 ex-jogadores de futebol da década de 70 e 80 portadores de Hepatite C.

Na Bahia, em 2007, uma campanha de esclarecimento capitaneada pelo ex-craque de futebol do esporte clube Bahia, Douglas, permitiu a avaliação de mais de 50 ex-jogadores de futebol do estado. Na avaliação dos fatores de risco desta época, percebeu-se que estes indivíduos eram expostos a sucessivas injeções de complexos vitamínicos e estimulantes endovenosos (tiaminose, complexo B com vitamina C, glicose, glucanergam, energizam e etc.). Além disso, sofriam sucessivas infiltrações articulares para conter os desgastes das suas articulações pela maratona de jogos.

As seringas utilizadas eram de vidro, com pouco tempo para esterilização, por isso a transmissão se dava entre todos os companheiros, muitas vezes nos vestiários dos seus clubes de futebol. Esta prática não era só dos jogadores profissionais. Muitos clubes amadores das ligas das pequenas cidades do interior do país a utilizavam também, seguindo o espelho dos ídolos dos clubes maiores. Ainda segundo a SBH, esta prática também era comum, principalmente no Nordeste, entre os foliões do carnaval e das micaretas, os quais recorriam às farmácias para tomar glicose no imaginário de que estariam protegendo os seus fígados dos males causados pelo excesso de álcool. Assim, esta forma de contaminação se tornou o principal fator de risco para Hepatite C no país, entre homens, que atualmente chegam aos ambulatórios e que têm idade superior a 45 anos.

Esta é uma peculiaridade brasileira que precisa ser muito bem esclarecida, uma vez que nas campanhas habitualmente implementadas pelos órgãos competentes, fala-se muito nos usuários de drogas ilícitas, todavia os pacientes contaminados pelos vírus da Hepatite C não se expuseram ao uso venoso de droga ilícita como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos. Este contraste é nítido. Na Europa, 70% dos pacientes masculinos nessa faixa etária, portadores de Hepatite C, têm o uso de drogas ilícitas como causa da sua contaminação. No Brasil, menos de 5% dos pacientes tem como causa drogas ilícitas, contudo o uso de medicamentos lícitos, mas com manipulação inadequada de seringas de vidro e agulhas foi o grande risco de contaminação.

CAMPANHA

Em face à essa questão, a FAAP e a SBH buscam, por meio de campanha nacional, alertar os atletas sobres estes riscos. O envolvimento dos ex-jogadores de futebol é oportuno no país do futebol no ano da Copa do Mundo. Não só ajudará a quebrar preconceitos como também proporcionará um grande impacto alcançando os objetivos de informação e educação da população.

Maiores informações:

Federação das Associações de Atletas Profissionais
Setor Bancário Sul - Qd. 02 - Lote 15 - Bl. E
Ed. Prime - Salas 801/805 - CEP: 70070-120

Assistam o vídeo: "Atletas da década de 60 70 e 80 são contaminados pelo vírus da hepatite c"
http://www.youtube.com/watch?v=GZCRbSWaQJs
Brasília - DF – (61) 3034-9400
http://www.faapatletas.com.br/