domingo, 27 de março de 2011

A evolução no tratamento da hepatite B nos últimos 20 anos

O tratamento da hepatite B objetiva a supressão sustentada do HBV DNA (carga viral) procurando a soro conversão do antígeno de superfície do vírus, o HBsAg. Atualmente é importante a condição do paciente e se ele for HBeAg-positivo ou HBeAg-negativo a estratégia de tratamento será diferente.


O tratamento está evoluindo, principalmente nos últimos anos. Vinte anos atrás, em 1991, o único medicamento disponível era o interferon convencional (interferon alfa), o qual atualmente foi substituído pelo interferon peguilado. A desejada soro conversão do HbeAg conseguindo ficar com carga viral indetectável utilizando o interferon peguilado é de 33% nos pacientes HBeAg-negativos e de 25% nos pacientes HBeAg-positivos


A partir de 1998 foram autorizados para o tratamento da hepatite B cinco medicamentos orais, chamados de "nucleosídeos / nucleotídeos". A Lamivudina foi o primeiro, mas hoje sua utilização esta a cada dia menor, pois após cinco anos de utilização 76% dos pacientes desenvolvem resistência do vírus ao medicamento.


A Telbivudina é mais potente que a Lamivudina, mas após dois anos de utilização a resistência se desenvolve em 25% dos pacientes HBeAg-positivos e em 11% dos pacientes HBeAg-negativos.


O Adefovir é relativamente fraco, mas é eficaz nos casos em que acontece resistência a Lamivudina e aparecem mutações no tratamento com a Telbivudina, devendo nesses casos utilizar o Adefovir em combinação com o medicamento que criou resistência, sem o substituir. A resistência ao Adefovir se desenvolve lentamente, chegando a 29% dos pacientes HBeAg-negativos após cinco anos de tratamento, porém aumenta a possibilidade de resistência ao Adefovir nos pacientes que apresentaram anteriormente resistência a Lamivudina.


Atualmente os dois medicamentos orais de primeira linha recomendados são o Entecavir e o Tenofovir. O Entecavir é muito potente demonstrando que após cinco anos de tratamento 94% dos pacientes conseguem manter a carga viral indetectável. A resistência aos cinco anos de utilização aparece em somente 1,2% dos pacientes que nunca antes receberam qualquer antiviral.


O Tenofovir também é potente, sendo muito eficaz quando utilizado em monoterapia nos pacientes que criaram resistência a Lamivudina. O Tenofovir por ser o último dos medicamentos aprovados tem somente três anos de utilização, demonstrando não ter criado resistência nesse período de tratamento.


Seja com a utilização do interferon peguilado (o único antiviral em que o tratamento é realizado por um período limitado de 1 ano), ou com os potentes medicamentos orais como o Entecavir ou o Tenofovir que podem ser utilizados por períodos longos de tratamento por apresentarem baixa resistência, a supressão da carga viral de forma sustentada é uma realidade, conseguindo se melhorar os níveis de fibrose e até o quadro de cirrose em um importante percentual de pacientes infectados com hepatite B, conseguindo ainda uma redução do risco de desenvolvimento de câncer no fígado.


Este artigo foi redigido com comentários e interpretação pessoal de seu autor, tomando como base a seguinte fonte:Treatment of chronic hepatitis B: Evolution over two decades - Yuen MF, Lai CL. - J Gastroenterol Hepatol. 2011 Jan;26 Suppl 1:138-43. doi: 10.1111/j.1440-1746.2010.06545.x.


Carlos Varaldo