domingo, 11 de setembro de 2011

Quanto custa tratar ou (des)tratar a hepatite C?

Nos últimos 12 anos cansei de ouvir que é financeiramente impossível a realização de uma grande campanha de detecção da hepatite C devido ao elevado custo do tratamento. Nunca considerei isso como uma resposta digna a nossa luta já que estamos tratando da maior epidemia que assola o país, atingindo aproximadamente 3,5 milhões de brasileiros. Considero que simplesmente o governo tenta empurrar o problema com a barriga, para que exploda após a próxima eleição, quando então a frente do ministério existirá outro partido político.

A progressão natural da doença é medida pelo dano que ocasiona ao fígado. São cinco estágios, o primeiro é um fígado normal, sem nenhum dano ou inflamação, um estágio para o qual não é recomendado tratamento já que o vírus da hepatite C consegue conviver amigavelmente em alguns indivíduos, mas quando a destruição do fígado atinge um nível moderado os consensos internacionais, e o brasileiro também, indicam que é necessário o tratamento para evitar que o indivíduo evolua para a cirrose ou o câncer de fígado. Neste ponto da progressão da doença se encontram atualmente aproximadamente a metade dos infectados.

O tratamento atual da hepatite C é realizado com combinação de 2 medicamentos, o interferon peguilado e a ribavirina, durante um período de seis ou doze meses, conforme o subtipo de vírus presente. No total, setenta e cinco por cento dos infectados necessitarão de 12 meses de tratamento, ao custo, se realizado de forma particular de setenta mil reais. O tratamento no SUS é muito mais barato para o governo, ficando em aproximadamente dezoito mil e setecentos reais.

Realmente, se o ministério da saúde tivesse que tratar o milhão e meio que hoje, se diagnosticados, necessitam de tratamento, deveria dispor de vinte e oito bilhões de reais, um valor absurdo, impossível de se colocar numa mesa de discussão. Mas convenhamos que não todos serão diagnosticados de uma só vez, levando anos e anos tal tarefa, por tanto, o gasto fica diluído com o correr dos anos.

Continuar com a política do avestruz, simplesmente ignorando o problema, não alertando a população parece ser a melhor política de alguns gestores da saúde, sempre escudados atrás da falta de semelhante verba. Mas será que realmente estão conseguindo alguma economia?

A progressão natural de doença mostra que 1 de cada 4 infectados chegará a desenvolver cirrose ou câncer de fígado numa idade entre 50 e 65 anos. Estamos então falando que até oitocentos mil brasileiros poderão estar em risco de vida nos próximos 10 ou 15 anos se não forem diagnosticados e tratados. Pior ainda, a idade media dos que morrem por culpa da hepatite C é de 57 anos, uma perda de 17 anos na expectativa de vida. Uma perda de 13.600.000 anos/vida na população brasileira.

Quanto representa isso na perda de capacidade produtiva, do não recolhimento de impostos devido à morte prematura e quantas pensões a união deverá pagar a quem perdeu seu parceiro? O calculo é impossível de ser feito, a maioria das maquinas de calcular não possuem dígitos suficientes.

Vamos então deixar de lado o custo social e calcular o custo para o SUS desses oitocentos mil casos de cirrose e câncer de fígado. Para não ser criticado estarei utilizando custos do próprio governo, encontrados facilmente no site do ministério da saúde a través do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos do Sistema Público de Saúde - SUS, conhecida como SIGTAP/DATASUS.

A despesa anual que ocasiona ao SUS um infectado com hepatite C é de R$. 470,00 na fase da fibrose (pode durar 20 anos) e de R$. 346,00 na fase da cirrose, a qual pode durar cinco anos (sem considerar internações pelas descompensações da doença) . Ao aparecer o câncer no fígado o custo anual sobre para R$. 10.824,00 no primeiro ano e se controlado será de R$. 4.400,00 a cada ano subsequente. A próxima fase será o transplante de fígado, o qual custa R$. 68.803,00 no primeiro ano, seguido de um custo de manutenção de R$. 9.517,00 a cada ano de sobrevida.

O custo total por paciente não tratado que acabara transplantado durante aproximadamente trinta anos de atendimento médico e cuidados, chega aos R$ 203.180,00, dinheiro que somente será economizado se para sorte do sistema o paciente morre aos 56 anos de idade. Se os oitocentos mil chegam a precisar um transplante o sistema vai gastar 162 bilhões de reais, oito vezes mais que o gastaria tratando quem precisa.

Com o tratamento atual aproximadamente 55% conseguem a cura, evitando a progressão da doença para a cirrose e o câncer, os quais não precisaram de realizar um transplante.

Existem ainda boas notícias no horizonte com a chegada de novos medicamentos, já em registro no Brasil, que elevam a possibilidade de cura para oitenta por cento dos pacientes. Melhor ainda para os que não responderam a o tratamento atual, pois passam a ter verdadeira possibilidade de cura com um retratamento e incrivelmente a um custo por paciente curado menor que o retratamento com os medicamentos atualmente no SUS.

Gosto de números, em especial quando oficiais para que não sejam criticados ou desmerecidos, pois pela frieza deles dá para saber que é possível se cuidar dos infectados com hepatite C se realmente existir vontade politica de enfrentar o problema na atual gestão, sem querer passar a bola ou melhor dito a bomba, para quem ganhar a próxima eleição.

A nossa presidente Dilma sabe muito bem que tratar uma doença é importante para continuar em atividade produtiva. Não fosse o seu tratamento do câncer não estaria viva para poder realizar a importante faxina na corrupção, a qual custa para o governo e o povo brasileiro muito mais caro que qualquer tratamento no SUS.

Agencia de Notícias das Hepatites